No quarto mês de gestação da nossa quarta filha, a Júlia, descobrimos que havia algo de errado com o bebê e, segundo a opinião do médico geneticista, provavelmente era uma síndrome rara (nanismo tanatofórico) e o bebê deveria morrer logo após o parto, havendo riscos também para mim. Na época, recomendou fazer um exame do líquido amniótico e, confirmado o diagnóstico, poderia pedir autorização judicial para a realização do aborto, pois, segundo ele, “não valia a pena sofrer com uma gravidez em que o bebê iria morrer …”, e deveria pensar no bem estar dos nossos outros filhos saudáveis.
Depois de muito rezar e refletir, meu marido e eu decidimos não fazer o exame, pois o mesmo poderia provocar um aborto. Nossa filha tinha uma missão para cumprir e, por mais dolorosa que fosse, nós não teríamos o direito de interromper a sua vida, apenas para “evitar mais sofrimento”. O sofrimento é impossível de ser evitado, todo mundo sofre. Nós como pais temos a missão de ensinar os nossos filhos a sofrer e não tentar impedir que eles sofram.
A gravidez prosseguiu com muitos problemas e a Júlia nasceu no dia 08 de novembro de 2007, depois de um parto muito complicado. Foi encaminhada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) onde foi confirmado o nanismo tanatofórico. Neste mesmo dia, sua madrinha pode entrar por alguns minutos na UTI e fez o batismo de urgência. Os médicos deram poucos dias de vida para ela, todavia a pequena Júlia, superou todas as expectativas.
Foram meses de muita dor, ela sofreu muito, realizava exames diários, só se alimentava por sonda e ficou muito tempo entubada para conseguir respirar. Além disso, tinha uma febre inexplicável, pois os exames sempre eram negativos para infecção e apesar da febre seu estado geral sempre era bom, o que intrigava muito todos os que estavam diretamente envolvidos com seus cuidados.
No dia 03 de fevereiro de 2008, com permissão especial dos médicos, pudemos completar o batismo da Júlia, com a presença do padre Ottomar Schneider, de nós pais e de seus padrinhos lá mesmo na UTI. Alguns dias após a cerimônia, todos puderam testemunhar uma grande graça: a Júlia começou a respirar sozinha! Utilizava apenas um pequeno suporte de oxigênio e pela primeira vez os médicos falaram da possibilidade dela vir para casa. Foram quinze dias maravilhosos. Pudemos pegá-la no colo e como ela ficou sem medicação, interagia mais conosco e até sorria…
Após este tempo ela voltou a piorar e oscilava entre períodos de melhora e piora no seu estado de saúde. Nenhum médico conseguia explicar como ela ainda conseguia sobreviver e um deles simplesmente nos disse que a única justificativa cabível era o AMOR. Ela permanecia conosco porque sentia o nosso grande amor por ela e nos amava também. Foram 5 meses e 11 dias até sermos chamados no hospital para receber a triste notícia de que ela havia partido para a casa do Pai. Segundo a equipe que estava com ela neste dia, tudo aconteceu muito rápido, seu coraçãozinho simplesmente parou e o médico não conseguiu reanimá-la. Ela partiu em paz.
Apesar de todo o sofrimento, nossos corações se regozijam de felicidade nos poucos momentos que pudemos estar com ela, sendo gratos a DEUS por nos ter dado o privilégio de sermos seus pais.
Nossa família amadureceu e se uniu muito com a vinda da Júlia. A dor que sentíamos diariamente, a sensação de impotência perante seu sofrimento era imensa, mas não conseguimos imaginar nossas vidas sem ela.
As questões levantadas atualmente sobre o aborto de crianças com pouca ou nenhuma expectativa de vida após o parto infelizmente são analisadas apenas sob a ótica da cultura hedonista que está impregnada em nossa sociedade.
Esta cultura prega que devemos buscar o prazer a qualquer preço e fugir de todo e qualquer tipo de sofrimento. Analisando desta forma realmente seria inadmissível dar continuidade a uma gravidez que só traria sofrimentos para a mãe e para toda família envolvida.
Porém, o sofrimento faz parte da vida de todas as pessoas e ele serve para amadurecermos e nos desprendermos de nosso egoísmo. Deus permite o sofrimento porque nos ama infinitamente e sabe que só quando nos libertarmos do nosso próprio eu é que realmente seremos felizes e poderemos gozar das alegrias do Céu.
A maior prova de amor de Deus Pai para a humanidade foi a entrega de seu Filho Jesus para nos salvar e a nossa salvação veio por meio de seu sofrimento na cruz. Porém, a história não acaba na cruz, mas na glória da Ressurreição! Assim, todo aquele que passa pela cruz também chega à ressurreição.
Toda pessoa humana criada por Deus tem uma missão a cumprir, por menor que seja seu tempo de vida aqui na Terra. No caso de minha filha, posso testemunhar que a vida de muitas pessoas foram tocadas e modificadas simplesmente ao saber da sua história de luta e de amor. Se tivéssemos abortado pensando apenas em acabar logo com o nosso sofrimento, sua vida não poderia ter feito todo o bem que fez a tantas pessoas.
Portanto, seja qual for o motivo, o aborto NUNCA é justificado. Todo eventual sofrimento que uma gravidez indesejada ou problemática possa trazer à mãe, deve ser suportado com dignidade e com as graças de Deus, pois certamente produzirá muitos frutos.
Flávia Nunes Costa Ghelardi
União de Famílias – Campinas/SP
A cada vez que leio está história me emociono. Tenho certeza que lá do céu a pequena Julia cuida de cada um de nós,, Parabéns pela matéria..Nos dias atuais precisamos destes exemplos para provar que VIDA vale a pena…
Agradecemos o testemunho da Flávia e o de sua família! Que este exemplo de luta pela vida nos dê força para como Jufem Brasil, Lírio do Pai, Tabor para o mundo continuarmos aspirando e lutando pelo resgate da dignidade feminina, pelo direito a vida! É belo ver como Schoenstatt ajuda-nos a vivermos como autênticos cristãos!
Linda história!! Faz-nos parar e pensar os milagres que Deus realiza, o que para os médicos era impossível se tornou real com a chegada da Júlia, que veio para nos mostrar que a vida deve ser permitida em qualquer circunstância. Acredito que ela está nos olhando e zelando pela sua família… grande exemplo de fé e coragem! Parabéns à família, emocionante testemunho!
É um verdadeiro testemunho para nossa sociedade a coragem desta família, o amor pela vida, mas sobretudo a confiança em Deus. Parabéns e muitas graças para toda família!
Obrigado Flávia, Luciano, crianças e JUFEM por nos darem a oportunidade de partilhar deste belo testemunho. Rogamos à pequena Júlia que, lá do céu, possa pedir à MTA e ao Bom Deus que a Família de Schoenstatt gere bons e autênticos frutos. Bençãos à Família Ghelardi!